Sinopse

A morte é certa. Não tem como fugir. Como você prefere morrer? Há quem prefira morrer pelo prazer. E há quem dê esse privilégio. Quando o sofrimento enfim parece compensar, ninguém reclamaria que a vida findasse ali, no clímax, no gozo. É uma bela forma de morrer. O problema é quando o amor se funde ao sangue.

"Mas ainda era só o início" . Cap 1

28 de março de 2009 | |

Eu era um publicitário bem sucedido, e não havia prazer que o trabalho não me fornecesse. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Nunca imaginei que uma noite mudaria tanto na minha vida. Uma noite normal, mas as estrelas tinham um brilho descomunal aos meus olhos.

Um amigo meu insistira muito pra que eu fosse num jantar, uma espécie de re-encontro do colegial. Depois de horas tentando convencê-lo que eu realmente não me sentia bem em ocasiões como essas, me senti obrigado a aceitar para não ser rude com o único amigo que me restara, e ainda nem sei por que ele tenta me resgatar ao “mundo dos vivos”.

Quando saí pela porta do prédio em que moro e olhei para o céu, a lua cintilava uma luz que eu nunca tinha visto antes, talvez por que nunca tenha procurado ver. Lágrimas se formaram nos meus olhos e eu não soube explicar por que. Nunca fui romântico, pelo contrário, nunca tive uma namorada por culpa de toda a minha frieza, mas também nunca senti necessidade de uma; prazeres são comprados por um preço baixo a qualquer hora do dia hoje em dia, e eu não precisava mais que uma hora de sexo barato para não enlouquecer.

Mas aquela noite uma parte esquecida de mim estava por reaparecer, mas a parte sensata de mim dizia que eu não podia sair para droga de jantar nenhum. Subi as escadas rapidamente, amaldiçoando por aquele prédio não ter um elevador. Quando cheguei à porta do meu apartamento decidi que eu não era covarde suficiente para ter medo de uma simples janta com velhos amigos. “Você anda precisando de distrações”, disse meu amigo terapeuta “faz parte da caminhada de volta ao mundo dos vivos, cara”. E agora eu estava tendo uma conversa comigo mesmo para resolver essa situação. Jantamos e vamos embora, falei com os meus “eus” que se manifestavam. Olhei pra baixo para dar uma checada se por acaso não tinha colocados os sapatos errados. Estava como sempre, o mesmo All Star tradicional, com a velha calça preta e a minha blusa cor de vinho. O dever me chamava: hora de comprar roupas novas, tarefa que eu fazia raramente.

Desci novamente as escadas, saindo pela porta da frente do prédio. Eu odiava a aparência externa dele. Era de um amarelo vivo com janelas azuis escandalosas. No lugar da grama existiam raízes grandes e velhas das árvores que abarrotavam o pátio de entrada. Mas eu não consegui me mudar dali, porque eu adorava o meu apartamento. Ali eu construíra meu “mundo particular”. Havia tudo que um homem como eu precisava: uma cafeteira; microondas; um bom sistema de som; um sofá confortável, que me servia muito bem de cama; uma televisão grande e uma prateleira abarrotada de livros. Ele é em uma peça onde não se pode discernir cozinha, quarto e sala. Ah, e a decoração, bem, isso é o que eu mais gosto. Tapeçarias cor de vinho destoam o local, assim como o grande sofá, também cor de vinho. O local é realmente claustrofóbico, mas é a minha cara.

Fui até o meu carro, um Scort velho; gosto do cheiro de gasolina que ele exala. Seguindo pelas ruas cheguei até a casa do meu amigo. A entrada estava lotada de carros, todos grandes e importados. As pessoas que estava entrando pelo portão logo reagiram ao rugido do motor do meu carro. O meu problema não era a falta de dinheiro, a questão era que eu nunca encontrei carro que me agradasse tanto quanto esse.

A casa desse meu amigo é o que se chamaria de “casa da família feliz”. E era. Ele tinha uma esposa gostosa, um casal de filhos loiros de olhos azuis e uma empregada para todos os tipos de serviço (disso eu tinha certeza). Sua esposa nunca gostou que ele andasse comigo, dizia que eu era um perdido no mundo. E ela tinha razão. A casa deles era branca e grande, todas as peças espaçosas e com uma decoração leve com direito a lareira. Ele era um filho da puta que desistiu da vida boêmia por uma vida monótona e feliz.
Saí do carro, demorando o máximo que pude para fechar a porta e passar a chave. Quando ia travessa a rua, vinha dois carros a uma distância segura, mas mesmo assim esperei, queria poder adiar ao máximo essa droga de jantar.

Olhei para os lados, percorrendo todos os cantos para me certificar que não havia ninguém de suspeito entre as sombras das árvores. Foi aí que avistei quem um dia seria o meu fim. Mas ainda era só o início.

Uma mulher estava encostada num poste, a luz refletindo os seus cachos loiros. Eu não consegui desviar a atenção dela, cada traço do seu rosto era perfeito; dos seus olhos negros aos seus lábios carnudos. Ah, e o seu corpo... Ela vestia um vestido vermelho comprido. O seu corpo era escultural, com cada curva destacada, mais bela que qualquer mulher. Quando cheguei novamente ao seu rosto ela me fitava. A sua expressão foi o que me empertigou. Ela estava decidida, como acabara de mudar de idéia e estivesse muito certa disso. Ela então abriu um sorriso com dentes brancos e reluzentes, irresistível. Sua voz , ao contrário do que eu esperava, não era doce e angelical, era um pouco áspera e misteriosa. Fiquei embriagado demais para entender suas primeiras palavras.

-... você. – disse ela, com o sorriso ainda inteiro.

- Hã? – eu não tinha uma resposta mais idiota pra dar?
Mas a sua expressão não se alterou nenhum um pouco com a minha evidente admiração.

-Eu acho que conheço você.

Ah, essa era boa. Em que mundo paralelo a esse eu conheço uma mulher assim?

- Qual o seu nome? – ela continuava tentando fazer com que eu dissesse alguma coisa consistente além das caretas que eu devia estar fazendo.
Balancei a cabeça, para que os meus pensamentos clareassem. Mas não foi muito produtivo.

-Venâncio. – Eu não podia ter inventado outro nome? Tinha que ter dito Venâncio? Nome de fazendeiro fracassado.
Ela balançou a cabeça, desapontada e disse que havia se enganado. A única coisa que passava pela minha cabeça era que eu havia sofrido um acidente de carro e estava no paraíso. Ela não era real, até podia ser, mas não no mundo de um zumbi como eu.
Ele fechou o sorriso, olhou o seu relógio, respectivamente o chão. Dessa vez eu pensei com clareza e consegui perguntar.

-Algum problema? – isso devia ser um avanço.

-Sim, uma pessoa ficou de me buscar aqui faz meia hora. – então ela me lançou um olhar suplicante- Você poderia me acompanhar até em casa?

Eu tinha morrido e estava mesmo no céu. Não que eu acreditasse em céu ou qualquer coisa relacionada a esse tipo de coisa, mas não havia outra explicação plausível para uma mulher dessas pedir a minha companhia. E eu podia ver muito bem a segundas intenções propositalmente evidentes na sua voz.

-Claro que sim. – dei um sorriso de canto. Uma vez na escola uma menina me disse que eu ficava muito charmoso com aquele sorriso. Eu o desfiz logo com medo de estar sendo ridículo.

-Me dê a chave do seu carro, eu dirijo. – um pouco exigente para um primeiro encontro. Peguei a chave e entreguei em suas mãos.
Ela dirigia como louca pela cidade; semáforo era algo invisível. Quando chegamos a sua casa, a minha boca se abriu.

Era uma casa enorme. Tinha um aspecto antigo, provavelmente foi impecavelmente restaurada. Não consegui calcular o seu tamanho, pois as árvores bloqueavam a visão, dando um ar macabro para a residência. Ela estacionou o meu carro numa garagem cheia de carros caríssimos. Encolhi meus ombros ao ver o painel do meu velho Scort.

Entramos por uma porta grande que dava acesso da garagem para um corredor que levava a sala principal. Era enorme e escuro. Vários quadros pendiam na parede, com o tema de assassinato, como logo identifiquei. O lugar era bem sensual.

Quando me virei para encará-la novamente, ela estava nua. Será que fiquei tão pasmo com a decoração que não percebi seus movimentos? Vi que o vestido estava rasgado e uma faca estava jogada no chão. Isso devia explicar. Então o corpo dela assumiu controle total na minha mente.

Eu nem percebi que a minha boca ainda estava aberta de choque. Ela veio e me puxou, guiando-me pela escada. No piso de cima entramos na última porta do corredor à direita. Deveria ser o quarto dela. Baseava-se em uma cama redonda vermelha, um armário enorme dividido em duas partes. Isso pouco importava. Ela estava na minha frente e me empurrou de modo que eu caísse na cama. Foi mais forte que eu espera que seria. Ela abriu uma das partes do armário. Dentro dele havia todo o tipo de material erótico que eu poderia imaginar.
Ela pegou alguns acessórios e pulou com toda a força no meu colo.

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