Sinopse

A morte é certa. Não tem como fugir. Como você prefere morrer? Há quem prefira morrer pelo prazer. E há quem dê esse privilégio. Quando o sofrimento enfim parece compensar, ninguém reclamaria que a vida findasse ali, no clímax, no gozo. É uma bela forma de morrer. O problema é quando o amor se funde ao sangue.

"Jorge". Cap 2

18 de abril de 2009 | |

Andei pelas ruas sem perceber o mundo a minha volta. A única coisa que eu tinha em mente era o rosto de Gabriella, impecável. Quando acordei, ela não estava lá, as minhas roupas estavam jogadas onde eu havia deixado. Desci, e a casa estava aparentemente solitária. Então peguei o meu carro e fui embora.
Uma das coisas que adquiri do meu pai foi uma desconfiança extrema das pessoas, cada detalhe me passava pela cabeça, sempre parecendo ter um duplo sentido maldoso.
O telefone tocou.

-Alô, Jorge.

-Hei cara, por que você não veio? – a sua voz estava feliz, como sempre. Patético.

-Ah, eu não fui ontem porque aconteceu um imprevisto...

-A Dani me disse que viu um Scort velho chegando. Por que você não entrou, cara?
. Ah sim, eu cheguei ir até a frente da tua casa... Espera a Dani-gostosona foi? Ela ainda continua bonita?

-Sim, com uns quilos a mais.

-Gorda? Então era ela que estava entrando quando eu cheguei. – cocei o queixo – Ah cara, uma loira de outro mundo me convidou pra ira até a sua casa. To saindo de lá agora.

-Ah, para, tu com toda essa lerdeza pegando uma loira? Devia ser muito baranga. – ele deu a risada de quando ele tentava disfarçar a inveja.

-Te juro, velho. Ela tinha um armário só de coisa eróticas. To todo doído das chicoteadas. Cara, foi a melhor transa da minha vida.

-Parece guri na puberdade que acabou de perder a virgindade! – e ele deu a risada debochada. Isso queria dizer que eu realmente parecia um guri na puberdade.

-Agora eu tenho que desligar, to acabado e tenho umas coisas pra fazer. Depois a gente se vê.

Desliguei o celular e tentei me situar no espaço. Eu tinha saído dos limites da cidade. Fiz o retorno e andei pelas ruas ainda silenciosas. Só mesmo o Jorge pra me ligar uma hora dessas. Ele era alguém que eu realmente gostava.

O Jorge era um fotógrafo excelente que mudou para professor fracassado por exigência da esposa. Ele era hilário, sempre sorrindo, até parecia que era de outra galáxia. Roberta era o nome da esposa dele. Uma mulher linda, mas de uma beleza vagabunda, que se encontra nas esquinas. Por culpa dela o Jorge me abandonou na ida aos bares tomar um porre de café preto e depois passar a noite acordados jogando cartas até o dia amanhecer, depois irmos dormir no meio das senhoras que rezavam na frente do monumento sagrado da praça. Bons tempos aqueles. Destruídos por uma cachorra gostosa. Mas Jorge era feliz assim, e eu nunca tinha visto ele tão feliz na vida. A paixão da vida dele era os seus filhos gêmeos loiros de olhos azuis: Jake e Jane. Nome de pobre que tenta ser rico. “Foi a Roberta que escolheu. Ela ta grávida e não posso discutir sobre isso”.Tudo bem, as vítimas eram as crianças mesmo; crianças que tirariam de mim mais ainda o meu amigo.

Jorge nunca deixou de se preocupar comigo. Ele se sentia meio culpado pela minha “depressão”. “Foi demais pra você termos largados os nossos hábitos tão subitamente”, dizia ele. Mas ele não era culpado, e eu nem estava em depressão. Só aprendi a gostar da solidão e do conforto apertado do meu apartamento. Eu estava feliz assim, só que de uma maneira não-saudável.
Quando cheguei ao meu prédio, tive vontade de dar meia volta e comprar uma lata de tinta para pintar aquelas paredes. Fiquei pensando em Gabriella ali no meu lado, vendo aquele lugar pavoroso. Balancei a cabeça e entrei correndo, subindo de dois em dois degraus. O porteiro mal me viu passar. Em geral ele não percebia a minha presença. Entrei no meu apartamento. Desejei profundamente ter uma cama confortável, mas eu só tinha aquele sofá. Joguei-me nele, sem nem me preocupar em trocar de roupa. Estava exausto e eu adorava saber o motivo disso. Minhas pálpebras foram pesando até que peguei no sono.

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