Sinopse

A morte é certa. Não tem como fugir. Como você prefere morrer? Há quem prefira morrer pelo prazer. E há quem dê esse privilégio. Quando o sofrimento enfim parece compensar, ninguém reclamaria que a vida findasse ali, no clímax, no gozo. É uma bela forma de morrer. O problema é quando o amor se funde ao sangue.

Mundo real. - 8 cap.

8 de janeiro de 2010 | |

Aquela sala era muito deprimente. Os quadros de textura tão padrões. O tapete tão comum. O sofá levemente manchado de tinta têmpera. Os brinquedos espalhados pelo chão. As almofadas bagunçadas. Os porta-retratos indicando sorrisos felizes de viagens incontáveis. As paredes meio riscadas de caneta. Tão irritante. Aquele cheiro de chiclete enjoado. Tudo era tão óbvio. Tão família. Não era vida, era o fim. E ali, sentado naquele sofá multicolor estava meu melhor amigo que um dia junto comigo repudiou todo esse tipo de coisa.
Mas naquela hora, era tudo que eu precisava. Um pouco de normalidade para não surtar depois dos acontecimentos daquela manhã. Minha intenção era ter ido para a casa de Gabriella pedir uma boa de uma explicação. Então decidi que eu primeiro precisava de uma dose de mundo real.
-Não entendi o que você quer dizer.
-Vamos supor Jorge, que uma mulher tenha se comportado de uma forma estranha. Talvez um pouco bipolar...
Jorge deu uma risada.
-Você está tão desacostumado com mulheres que se esqueceu da inimiga número um dos homens: a TPM.
-Não, Jorge. É mais que isso. Hoje de manhã... – e a porta abriu, interrompendo-me.
Roberta entrou. Seu cabelo tingido com uma tinta vermelha vagabunda, apontando a raiz loira, seu liso artificial. Na verdade, a tinta não tinha culpa se ela fazia qualquer coisa parecer vagabunda. O que mais me irritava era sua vulgaridade disfarçada de pudor. Ela num vestido florido, daqueles que as avós usam. Mas faltavam uns 30 cm de tecido ali.
-Oi mor. – disse naquela voz fina e puxada pra um caipira de araque.
-Olá, Roberta. – disse Jorge, com um sorriso bobo no rosto.
Ela passou reto por mim.
-Oi pra você também, Betinha. – eu disse.
Ela parou, o rosto assumindo a mesma tonalidade do seu cabelo.
- Vai pro inferno, Venâncio!
Franzi o cenho, em sinal forçado de reprovação.
-Ó, que maneira de tratar suas visitas!
Jorge tentou intervir, mas Roberta era estressada demais. E isso me divertia tanto.
-Cala a sua boca! Sabe muito bem que não é bem vindo aqui!
-Aé? E você é a dona?
-Por favor, não provoque ela! – disse Jorge, levantando as mãos.
-Vai dar, seu filho da puta!
-Roberta, ele é meu convidado! – e Jorge ainda achava que Roberta era civilizada, pobre coitado.
-Então fica com teu convidado, Jorge! – ela gritava. Tão cômica.
Roberta subiu as escadas correndo, batendo a porta do quarto.
Jorge ficou preocupado com isso. Na verdade, apavorado.
-Ela ficou muito zangada, Venâncio! Olha o que você fez!
Dei uma risada.
-E ela tem pra onde ir? Ah, Jorge, ela não vai sair dessa vida de princesa pra voltar pro buraco de onde saiu.
Jorge balançou a cabeça, incrédulo.
-Sabia que nem todo mundo é como você? Tem gente que tem moral!
-É? E a Roberta sabe o que significa essa palavra?
-Vai se catar, Venâncio!
Dei uma risada. Embora aquela cena fosse deprimente demais.
-O clima ta tenso aqui. Vou indo, Jorge.
Ele me olhou com aquela sua expressão dilacerada, aquele meu amigo preocupado.
-Não, Venâncio. Fica, depois eu me acerto com a Rô. – o sacrifício em suas palavras era tangível.
Eu era egoísta o bastante pra ficar ali e brigar com a Roberta até que o casamento acabasse. Mas quando se tratava da felicidade de Jorge eu deveria ponderar. O que eu podia fazer se meu amigo amava aquela vadia? Era melhor eu usar o bom senso e deixar que ele acertasse a vida dele. Além do mais, eu tinha coisas mais interessantes pra fazer.

1 comentários:

Amanda disse...

eba, voltou a postar? *-*

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