Sinopse

A morte é certa. Não tem como fugir. Como você prefere morrer? Há quem prefira morrer pelo prazer. E há quem dê esse privilégio. Quando o sofrimento enfim parece compensar, ninguém reclamaria que a vida findasse ali, no clímax, no gozo. É uma bela forma de morrer. O problema é quando o amor se funde ao sangue.

Mancha de sangue - cap 3

29 de abril de 2009 | |

Sonhei com Gabriella. Estávamos na calçada aonde nos vimos pela primeira vez. Pessoas passavam correndo por nós, desesperadas, gritando atormentadas. Eu podia me ver, e eu estava com a cara chocada e ao mesmo tempo incondicionalmente encantada. E Gabriella como sempre, perfeita. Ela sorria; a expressão calma e diabólica. Então ela começava a se distanciar cada vez mais, só que suas pernas não se mexiam. Junto com ela as pessoas desapareciam. Eu tentava correr para alcançá-la, mas meus esforços eram em vão. Até que Gabriella era só um ponto vermelho. Então eu acordei.

Eram três horas da tarde e não fazia idéia de quantas horas dormira. Eu teria uma reunião com o pessoal do grupo de publicidade a noite e precisava organizar meu material. Resolvi tomar um banho para colocar as idéias no lugar.

Demorei-me embaixo da água quente do chuveiro, tirando todo o desconforto causado pelo suor. Tentei não pensar no que me tiraria todos os pensamentos sãos. Apeguei-me a reunião. Saí do banho. Organizei todo o meu material vagarosamente, mas ainda tinha bastante tempo e precisava manter a minha mente ocupada. Olhei em volta e vi algumas coisas jogadas pelo chão do apartamento. Liguei o aparelho de som e coloquei uma musica com letra complexa e rolos de bateria complicados. Prestei atenção na letra enquanto limpava as coisas, cantando as partes que eu sabia. Desconfio que tenha TOC. Sempre fui muito organizado e me irrito com cosias fora do lugar. Apesar do estilo abarrotado do meu apartamento, ele sempre está organizado, com as roupas no armário, os controles de televisão em cima dela, as xícaras de café lavadas e empilhadas no lado da cafeteira e as almofadas amassadas onde elas devem estar.
Quando acabei, tomei outro banho e fui para reunião. As horas, diferente do que eu imaginava, passaram depressa, e quando cheguei em casa, já era um horário razoável para dormir.

O outro dia passou monotonamente, assim como o outro, e o outro. Havia algo errado comigo, e eu sabia exatamente o que era. Estava decidido a seguir o meu “plano brilhante”. Na manha do quinto dia depois que conheci Gabriella, fui até a frente da sua casa. Era bem cedo, então imaginei que ela estivesse dormindo. Esperaria até o tempo que fosse necessário para encontrá-la novamente. Uma ela hora sairia, era o que eu supunha.

Prestei atenção nos detalhes da casa. Era antiga, provavelmente restaurada. Era grande e tinha certo charme. Lembrava muito um lar feliz, mas com as horas começou a assumir um aspecto macabro. A quantidade exagerada de árvores bloqueava qualquer tipo de visão ampla da casa. Isso me deixava agoniado.

Enquanto escutava o rádio sem ouvir, um carro vermelho familiar apareceu pelo espelho. Eu sabia de onde o conhecia. Um fluxo de adrenalina invadiu o meu corpo e a minha mente. Sacudi a cabeça para me concentrar. Agi por impulso. Liguei o carro e atravessei-o na rua, bloqueando a passagem de qualquer carro. Eu pude ver o seu rosto dentro do carro, ela estreitou os olhos e sorriu, diabolicamente. Esperava que Gabriella parasse e falasse comigo. Mas ao contrário, ela acelerou. Foi rápido demais. Só tive tempo de sentir o impacto. Ela bateu no meu carro, amassando a lateral do meu e a frente do dela. Quando consegui reorganizar os meus pensamentos, ela ria, com os cachos caindo no rosto perfeito. Eu não sabia o que fazer. Será que tinha problemas mentais? Ela amassou o meu Scort!
G
abriella desceu do carro. Ela vestia um conjunto social marrom. Não esperava vê-la vestida assim. Parecia uma responsável executiva mãe de família. Mas o seu rosto negava isso. Ele era divino, radiante e como sempre, diabólico. Ela contornou o carro, e abriu a porta do carona. Abaixou-se e falou; sua voz hipnotizante, os olhos cruéis.

- Da próxima vez eu amasso a sua cara junto.

E saiu. Fiquei desesperado e desci do carro. Peguei o braço dela e a puxei para mim. Ela olhou a minha mão, respectivamente, o meu rosto. Eu imaginava a sua expressão inalterada como sempre, mas Gabriella vacilou ao encontrar os meus olhos. Então puxou o braço. Fiz algo sem pensar. Puxei o seu rosto para o meu, beijando-a. Acho que Gabriella retribuiu o beijo por alguns instantes, até empurrar o meu rosto com toda a força, mas seu corpo continuou no meu.

-Gabriella, não sei como explicar, mas não consigo mais ficar longe de você.

Então ela sorriu com escárnio.

-Mais um cão para o meu canil.

Era isso que ela pensava de mim? E o que eu esperava mais?Uma mulher como aquela nunca sentiria nada por um homem como eu. Não digo que eu sou feio, mas também não consigo me achar bonito. O que sei é que muitas colegas de faculdade me disseram é que eu até tenho cara de “sedutor”, mas minha maneira de ser é que estraga todo o resto. Isso não fazia a menor diferença, sedutor ou não, Gabriella não me queria.
Larguei o seu corpo devagar, com a cara chocada. Olhei para o meu carro que parecei uma mancha de sangue no meio da rua. Gabriella sorria, divertindo-se com a situação, mas de certa forma os seus olhos expressavam confusão, um dilema íntimo. Baixei a cabeça, e ofeguei. Não sabia que aquelas palavras me afetariam tanto. As mãos dela levantaram o meu queixo. Ela estava com a expressão vazia.

-Agora desapareça. – Então ela chegou com o rosto perto, roçou os lábios no meu pescoço, pra cima e pra baixo, a sua respiração tocando a minha pele, então, lentamente subiu até meus lábios, sussurrando – Desapareça.

Então ela foi para o seu carro amassado e partiu.

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