Sinopse

A morte é certa. Não tem como fugir. Como você prefere morrer? Há quem prefira morrer pelo prazer. E há quem dê esse privilégio. Quando o sofrimento enfim parece compensar, ninguém reclamaria que a vida findasse ali, no clímax, no gozo. É uma bela forma de morrer. O problema é quando o amor se funde ao sangue.

Névoa - cap. 6

24 de agosto de 2009 | |

Só pude ver que Gabriella havia atirado porque o homem caiu em agonia. Os olhos dele eram carregados de dor. Mas não tive muito tempo para prestar atenção no pobre homem, uma pancada me acertou na cabeça por trás e logo eu não conseguia mais discernir nada a minha frente.

Lembro que tombei no sofá e segurava minha cabeça com força, tentando arrancar a dor. Queria gritar, mas algo me impelia. Na verdade, eu procurava minhas forças, mas não as encontrava onde deveriam estar. Abri meus olhos, e apesar da maioria das coisas não fazerem sentido, vi um vulto se movimentado de um lado para o outro. Parecia que havia fumaça no cômodo, mas creio que fossem devaneios. O vulto parecia carregar algo, que lembrava um corpo. Os olhos do homem em agonia me tomaram; uma névoa pálida e distante, como nos sonhos, que nenhuma cor é nítida. Mas a dor era forte demais para que eu me concentrasse em algo distinto. Só conseguia sentir o latejar constante e incômodo.

Porém, em meio à dor e a névoa embaçada, uma forma discerniu-se. Um vulto envolto em anéis que brilhavam como ouro. Mesmo com a visão deturpada, era possível reconhecê-la. Forcei os olhos para conseguir encará-la melhor. Ela matinha a face bem perto e se eu me esforçasse mais um pouco para ignorar o latejar, poderia sentir sua respiração. Mas o latejar era forte demais, e ameaçava corromper a minha consciência. Podia sentir a escuridão tentando me tomar, tentadora. Parecia uma atitude masoquista recusar.

Os lábios de Gabriella começaram a se mexer e tive que lutar mais ainda para captar as palavras de mel ácido que ela proferia, embora ela parecesse falar alto e claro para que alguém com problemas mentais entendesse. Ta certo que era provável que eu fosse pior que isso. Mas isso não vem ao caso.

- ... não viu nada. – ela falava no meu ouvido, e se já era difícil me concentrar com a dor, com tanta proximidade era mais difícil ainda.

E então, meu sol foi indo embora, se distanciando. O latejar se tornou mais forte. Queria deixar que a escuridão enfim me tomasse, mas precisava primeiro assimilar o que Gabriella havia dito.

“não viu nada”. “não viu nada”. Você não viu nada, deveria ser. Eu não tinha a mínima noção do que se passara, e se restara alguma lembrança, ela era uma névoa embaçada e turva. Repeti a frase de Gabriella inúmeras vezes em minha mente. Eu atenderia a seu pedido.

Então, fechei os olhos e me entreguei a doce escuridão que veio me receber; acolhedora.

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